Depois de tanto tempo...
Eu e Rapunzel voltamos ao vosso convívio e vamos dar novas informações, formações, curiosidades e saberes sobre cabelo.
Para fazer a ligação das mensagens anteriores e começarmos por algum lado, segue um texto sobre: Cabelo - história e simbolismo.
O cabelo tem como função primeira, a protecção do crâneo contra
traumatismos e radiações solares.
Porém, e desde tempos imemoriais, são inúmeros os testemunhos que
associam ao cabelo valores simbólicos, estéticos e sociais.
Basta recordar o episódio bíblico de “Sansão e Dalila”. Sansão, juiz de
Israel, poderoso e cheio de força, perde estes atributos quando a sua mulher
Dalila lhe corta os cabelos durante a noite.
Atente-se, ainda, a história de Berenice, Rainha do Egipto. Esta,
prometeu a Vénus a sua bela cabeleira pelo retorno rápido do seu marido
Ptolomeu, que se encontrava numa missão militar na Síria. A ira de Ptolomeu,
confrontado com a perda de cabelo de sua mulher, só foi apaziguada quando este
foi informado da transformação dos cabelos de Berenice em estrelas –
constelação “Coma Berenices”, cabeleira de Berenice..
É de referir, também, a história de Buda, cinco
séculos antes de Cristo, que como expressão da renúncia aos bens materiais
cortou os seus cabelos.
“Rapunzel”, uma personagem criada
pelos irmãos Grimm, utilizava as suas tranças para fazer subir o seu amado à
torre onde se encontrava presa.
Estes são apenas alguns exemplos que remetem para muitas lendas, mitos,
fábulas e contos em que ao cabelo são atribuídos os mais diversos significados
simbólicos ou mesmo da esfera social.
O facto de os militares raparem o cabelo significa o abdicar da
individualidade e a subjugação à autoridade. Os padres e os monges rapam o
cabelo como um acto simbólico de humildade e submissão ao seu Deus. A calvície
está também ligada à ideia de velhice.
Outras tantas manifestações sociais mais recentes, tais como anedotas,
publicidade, séries televisivas ou de banda desenhada, levam a constatar que
ontem, tal como hoje, o cabelo tem outros significados que não a sua função
biológica.
A revelação das preocupações com o cabelo remonta a tempos longínquos.
Inúmeras são as fórmulas e as poções mágicas, existindo já inscritas em papiros
Egípcios, com mais de quatro mil anos, que citam a
anatomia do couro cabeludo, bem como fórmulas para tratar a alopécia. As misturas, em partes iguais, incluíam gordura de
hipopótamo, leão, crocodilo, cobra e ganso. O egípcio
Hakiem-El-Demagh, considerado o primeiro especialista em doenças do couro
cabeludo, idealizou, nessa época, várias fórmulas para o tratamento da calvície.
Curiosas eram, também, as receitas prescritas por Hipócrates. Estas continham instruções para o tratamento do
cabelo que incluíam massagens com láudano, óleo de rosas, óleo de linho, óleo
de olivas verdes e mesmo de urtigas, juntando excremento de pombos.
Já Cleópatra, prescrevia a Júlio César, seu amado, para a calvície, uma
poção que incluía rato doméstico, gordura de urso, medula de veado e dente de
cavalo (Pereira, 2002).
Mais tarde, na Idade Média, a este tipo de tratamentos recorrentes de
animais e plantas, somaram-se ainda rituais de exorcismo.
Na actualidade, é interessante observar quantos grandes líderes mundiais
são calvos. Foi efectuado nos Estados Unidos um levantamento de 522 políticos
de topo e o resultado revelou uma percentagem mínima de calvos.
De acordo com este estudo, os presidentes na sua grande maioria, quando
escolhidos pelo povo, não são calvos.
Assim, a preocupação com o cabelo, que remonta de há milhares de anos,
parece querer dizer que a calvície corresponde a um corpo não normalizado. Ao
cabelo são dados atributos simbólicos, como centro da força, símbolo de
realeza, estado social, fetiche, índice de sensualidade e emblema de juventude,
castigo, sacrifício religioso ou luto, ocupação individual, status
profissional, conduta moral, idade, sexo e até estado civil).